café comigo #03
sobre desejo, sofrimento e o sabor agridoce da vida
Bom dia :)
Pro nosso café de hoje, decidi dar uma olhada nos vários textos inacabados do meu bloco de notas e me deparei com esse de mais ou menos um ano atrás. Por algum motivo, ele fez sentido pra mim hoje. Espero que faça pra você também :)
☕️
Estou lendo “Sapiens”, do Yuval Harrari, um cara com um talento incrível pra contar histórias. Ele consegue falar biologia, política e filosofia como quem conta o que comeu no café da manhã - mas não é sobre isso que eu quero falar hoje.
Sempre fui um ser desejante. Daqueles que anseiam em conquistar - coisas, sonhos, objetivos. Acredito que a força do desejo nos impulsiona a estarmos prontos quando as oportunidades chegam - e elas chegam pra quem deseja.
Só que ontem, enquanto eu lia, Harrari me vem com essa: “não importa o que a mente experimente, ela sempre reage com desejo, e o desejo sempre envolve insatisfação” [na verdade, não foi ele que falou isso, e sim Gautama, o cara do budismo, mas continuemos]
Nessa hora, minha cabeça deu tilt. Fiquei só o meme da Nazaré, tentando encontrar a linha tênue que envolve esses dois lados. Ainda não encontrei, mas alguns acontecimentos da semana me deram pistas:
Tenho duas amigas que estão se mudando. Uma delas colocou a casa pra vender achando que demoraria meses, mas em poucas semanas o negócio foi fechado - e, do dia pra noite, ela precisava procurar um lugar pra morar. Acompanhei o sofrimento de ter que se despedir de um lugar às pressas, sem o devido tempo que o coração precisa pra dizer tchau. Já com a outra amiga aconteceu o contrário: como a nova casa só ficará pronta em alguns meses, tudo acontece mais devagar do que ela queria. O sofrimento, no final das contas, parece fazer parte do pacote de ambas.
E como não sofrer então? Segundo Gautama, o segredo é aprender a ver a realidade como ela é, sem os nossos desejos de como gostaríamos que ela fosse. Parece simples, mas como dizem, “na prática, a teoria é outra”.
Eu tenho o costume de idealizar o futuro. Consigo facilmente visualizar meus sonhos e objetivos se realizando, sentir meu coração sossegado e preenchido por aquela sensação de completude. Só que o futuro que a gente pinta na nossa cabeça não leva em consideração emoções mistas, suor, preocupações, boletos pra pagar, o peso das decisões.
O futuro que só existe nos nossos sonhos pode ser feito de açúcar, mas o presente é agridoce.
Não sei se um dia serei como Gautama e pare de construir sonhos de açúcar, mas já me sinto vitoriosa em conseguir apreciar o gosto agridoce da vida.
Que a nossa semana seja saborosa :)
Com carinho,
Camila

