café comigo #05
sobre incêndios
O café de hoje é da varanda da casa de praia numa manhã de céu cinza e brisa fresca. Entre eu começar a escrever e terminar o texto, veio uma chuva preguiçosa com o recado: é hora de voltar pra casa.
☕️🌧️
Deitada na rede, vivendo aqueles minutos de paz e calmaria de um amanhecer de domingo, penso:
Como é complicado viver no agora em um mundo que nos pede o tempo todo para viver no futuro.
A reunião de amanhã, o compromisso da próxima semana, o prazo apertado desse mês, as demandas pra entregar até o final do ano. Tudo ao nosso redor grita [de forma silenciosa, o que deixa tudo mais assustador] que não, não vai dar tempo. O futuro tá chegando, os prazos estão acabando e não, você não vai conseguir fazer tudo. Mas deve tentar. Deve se preocupar em absolutamente todo momento que não estiver fazendo algo extremamente importante. Assim, além de exausta, você vai se sentir culpada.
Viver um dia de cada vez e focar a atenção apenas no fogo que está à frente, sem se desesperar com o incêndio que se espalha ao redor é tão raro de se observar que parece um contrassenso, um disparate.
Eu sou a pessoa que se desespera ao olhar o incêndio se espalhando. Quero apagar tudo, resolver o problema. Quero provar [pra mim mesma ou para os outros?] que consigo. Que vai ficar tudo bem quando o fogo for embora.
Mas em alguns poucos momentos [não raros, mas ainda poucos], quando me sinto totalmente dentro de mim, do corpo que habito, vivendo o único momento que existe, que é agora, uma confiança serena me invade e me traz a certeza de que, ainda que eu não consiga apagar todos os incêndios, eu vou fazer a única coisa possível: o que consigo.
Nessas horas, a realidade sempre me vêm como um bálsamo: eu sou uma, o dia tem um número limitado de horas - ainda que muitos gostariam que tivesse mais [spoiler alert: se tivesse mais, a gente arrumaria mais coisas pra resolver e continuaria achando pouco] e se eu não estabelecer limites do quanto me dedico a cada área da minha vida, o mundo não vai fazer isso por mim. Porque [adivinha] ele tá preocupado demais criando mais incêndios pra gente apagar.
Então, se é nessa realidade que a gente vive, aprendamos nós, os rebeldes que se recusam a viver no futuro, a caminhar sobre o fogo. Afinal de contas, sempre gostei da frase “somos as netas das bruxas que não conseguiram queimar” mesmo.
com carinho,
Camila

